quarta-feira, 30 de abril de 2014

Racismo no futebol, que novidade!

As denuncias aos casos racistas esse ano, coloca em pauta uma discussão antiga. O que começou com Tinga e com o arbitro Márcio Chagas da Silva tem continuidade essa semana com a atitude inusitada de Daniel Alves. O jogador comeu uma banana que foi arremessada em sua direção ao cobrar um escanteio no jogo Barcelona x Villarreal no Campeonato Espanhol.


A sociedade futebolística, depois de anos ignorando os inúmeros casos de racismo no futebol está cada vez mais se pronunciando. A agencia publicitária de Neymar  lançou a campanha na internet #somostodosmacacos e, como na maioria dos debates sobre qualquer problema social pautado mídia e seus ascensoristas , o tiro saiu pela culatra!

‘Macaco’ é um termo racista advindo de teorias racistas do início do século XIX que colocava que negros tinham características genéticas que se assemelhavam as de macacos, de que negros eram menos ‘evoluídos’ e isso justificou por muito tempo o trabalho escravo e o genocídio do povo negro. Atualmente o conceito de raça biologicamente já foi superado, contudo no imaginário social o racismo está alicerçado em nossa constituição social, ele é estrutural em nossa sociedade. Ou seja, cabe a nós combatê-lo diariamente, e pra isso, o primeiro passo é reconstituir essa história, e nela, macaco é um termo racista sim!



Não queremos entrar no mérito de quem aderiu essa campanha, problematizamos aqui o ‘macaco’ e também a hipocrisia dos ‘famosos’ que se utilizam do sofrimento causado pelo racismo pra se promover sem a mínima reflexão sobre o que significa tal termo. Sem a mínima implicação referente a questão racial, sem reconhecer o lugar de privilegio que ocupam. Sem reconhecer a herança concreta e simbólica herdada do racismo.

Se a ideia inicial era ‘mexeu com ele mexeu comigo’ uma questão é importante: não somos todxs iguais, e nem queremos/precisamos ser. A diferença é o que nos torna únicos, e se tratando de negros em um país que se beneficiou por quase quatro séculos de trabalho escravo, respeito às nossas diferenças e REPARAÇÃO é o que precisamos! Muito menos da falsa propagação de democracia racial.

O racismo não se discute com ‘fotos de amigos segurando bananas’. Ao trazer esta pauta para periferia, o resultado é mais do que previsível. É tiro na certa. Amarildos, Claudias, Douglas são exemplos da violência racista do Estado. Para a Polícia militarizada, que defende as fronteiras do luxo e do lixo, o inimigo tem classe e tem cor. É pobre e é negro. Não hesita em puxar o gatilho.  Com sucesso, mais um neguinho é assassinado. Esta é uma polícia de extermínio.

Onde estava toda a indignação dos famosos com os casos citados anteriormente? É muito engraçado ver que para estes casos não existe campanha de "conscientização". Pelo contrário, as justificativas se somam, no jornal, no programa pra periferia do domingo, na telenovela. Importante lembrarmo-nos do texto escrito e publicado pelo Luciano Huck que ao ter seu relógio Rolex roubado num assalto não hesitou em chamar o ‘capitão Nascimento’, figura fictícia do Tropa de Elite, pra discutir segurança pública.

Não deixemos que a elite midiática nos diga o que pensar, nem aponte as saídas pra problemas que são nossos. O racismo está longe de ser superado, e enquanto houver consentimento do oprimido, os opressores continuarão a nos esmagar!

#nãosomostodsmacacos
Contra o Genocídio do Povo Negro e o Extermínio de sua Juventude


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