As denuncias aos casos racistas esse ano, coloca em pauta uma discussão antiga. O que começou com Tinga e com o arbitro Márcio Chagas da Silva tem continuidade essa semana com a atitude inusitada de Daniel Alves. O jogador comeu uma banana que foi arremessada em sua direção ao cobrar um escanteio no jogo Barcelona x Villarreal no Campeonato Espanhol.
A sociedade futebolística, depois de anos ignorando
os inúmeros casos de racismo no futebol está cada vez mais se pronunciando. A
agencia publicitária de Neymar lançou a
campanha na internet #somostodosmacacos e, como na maioria dos debates sobre
qualquer problema social pautado mídia e seus ascensoristas , o tiro saiu pela
culatra!
‘Macaco’ é um termo racista advindo de teorias
racistas do início do século XIX que colocava que negros tinham características
genéticas que se assemelhavam as de macacos, de que negros eram menos
‘evoluídos’ e isso justificou por muito tempo o trabalho escravo e o genocídio
do povo negro. Atualmente o conceito de raça biologicamente já foi superado,
contudo no imaginário social o racismo está alicerçado em nossa constituição
social, ele é estrutural em nossa sociedade. Ou seja, cabe a nós combatê-lo
diariamente, e pra isso, o primeiro passo é reconstituir essa história, e nela,
macaco é um termo racista sim!
Não queremos entrar no mérito de quem aderiu essa
campanha, problematizamos aqui o ‘macaco’ e também a hipocrisia dos ‘famosos’
que se utilizam do sofrimento causado pelo racismo pra se promover sem a mínima
reflexão sobre o que significa tal termo. Sem a mínima implicação referente a questão racial,
sem reconhecer o lugar de privilegio que ocupam. Sem reconhecer a herança
concreta e simbólica herdada do racismo.
Se a ideia inicial era ‘mexeu com ele mexeu comigo’
uma questão é importante: não somos todxs iguais, e nem queremos/precisamos
ser. A diferença é o que nos torna únicos, e se tratando de negros em um país
que se beneficiou por quase quatro séculos de trabalho escravo, respeito às
nossas diferenças e REPARAÇÃO é o que precisamos! Muito menos da falsa
propagação de democracia racial.
O racismo não se discute com ‘fotos de amigos
segurando bananas’. Ao trazer esta pauta para periferia, o resultado é mais do
que previsível. É tiro na certa. Amarildos, Claudias, Douglas são exemplos da
violência racista do Estado. Para a Polícia militarizada, que defende as
fronteiras do luxo e do lixo, o inimigo tem classe e tem cor. É pobre e é
negro. Não hesita em puxar o gatilho. Com sucesso, mais um neguinho é
assassinado. Esta é uma polícia de extermínio.
Onde estava toda a indignação dos famosos com os
casos citados anteriormente? É muito engraçado ver que para estes casos não
existe campanha de "conscientização". Pelo contrário, as
justificativas se somam, no jornal, no programa pra periferia do domingo, na
telenovela. Importante lembrarmo-nos do texto escrito e publicado pelo Luciano
Huck que ao ter seu relógio Rolex roubado num assalto não hesitou em chamar o
‘capitão Nascimento’, figura fictícia do Tropa de Elite, pra discutir segurança
pública.
Não deixemos que a elite midiática nos diga o que
pensar, nem aponte as saídas pra problemas que são nossos. O racismo está longe
de ser superado, e enquanto houver consentimento do oprimido, os opressores
continuarão a nos esmagar!
#nãosomostodsmacacos
Contra
o Genocídio do Povo Negro e o Extermínio de sua Juventude
Nenhum comentário:
Postar um comentário