sábado, 29 de março de 2014

NOTA DE REPÚDIO A FOTOGRAFIA RACISTA FEITA PELO COLETIVO SETE/NOVE

"felicidade hoje é fantasia
O povo canta mesmo sem saber
Que a favela virou poesia
Na boca de quem nunca soube o que é sofrer" 



Blackface é quando pessoas brancas pintam o rosto de preto para caricaturar e produzir um estereótipo racista do que é ser/se parecer com um negro. Começou nos EUA onde se reproduziam imagens e, logo em seguida, programas de televisão com brancos vestidos de negros para caçoar, ridicularizar e animalizar a imagem do negro. Blackface ofende, caçoa e oprime profundamente.
    Na última semana uma organização de fotógrafos de Porto Alegre chamada sete/nove com o intuito de divulgar um evento pra uma festa denominada “Selva” usou uma modelo branca para caricaturar uma mulher negra e mais outros modelos brancos caricaturados de índios. A Blackface chamou muita atenção, pessoas reclamaram, muitas delas mulheres negras e com essa ação de repúdio a postagem tiveram seus comentários ignorados e apagados. O silenciamento em cima das acusações fizeram com que o dialogo ficasse impossível, observamos que isso é a mesma opressão que acontece diariamente, contra as ditas ‘minorias’, que ao invés de retratar o erro, silencia aqueles que acusam e dizem que “racismo está nos olhos de quem vê”.   A foto foi retirada do ar, mas a festa continuou intacta.
Essa atitude não é nada inédita nem inesperada, é apenas resultado de um movimento que se diz  contra opressões, autodenominando-se libertário, que  ao invés de lutar contra essas opressões fazem o contrário: sustentam uma lógica hegêmonica silenciando denúncias legitimas contra o racismo e ignorando a voz de quem sofre com as opressões racistas e machistas diariamente.


      O COLETIVO NEGRAÇÃO TEM POR OBJETIVO ABRIR UM DIÁLOGO COM OS ORGANIZADORES DA FESTA E O PÚBLICO EM GERAL, PARA REFLETIRMOS e problematizarmos a condição em que negras e negros estão colocados em nossa sociedade, que reproduz , principalmente, com as mulheres negras uma dupla opressão, de raça e gênero e até tripla opressão se considerarmos a questão de classe social. Estamos cientes da nota de “esclarecimento” divulgada pelo coletivo de fotógrafos sete/nove, mas ela não propõe e nem se redime com o erro produzido nas fotos, apenas tenta abafar mais a nossa voz ao invés de dar ouvidos as críticas e se retratar, ou seja, deveriam começar admitindo o erro cometido e buscar trabalhar o conceito de Blackface dentro do grupo para que essa situação racista não se repita. Blackface não é arte, é racismo, não precisamos entender o conceito das fotografias que o grupo tentou abordar, não somos ingênuos, brancos se pintam de negros há muitas décadas com o intuito de estereotipar, caçoar da nossa aparência e inferiorizar nossas origens. Entendemos que o racismo, tanto quanto o machismo, é algo estruturante na nossa sociedade, por isso devemos sempre desconstruir e questionar nossas ações, pois, sem notar, muitas vezes, produzimos e reproduzimos preconceitos diversos diariamente.
  Não estamos considerando aqui a intencionalidade dos fotógrafos ao reproduzirem a imagem. Essa não é uma questão para o momento. O ato de reproduzir o blackface se objetiva no imaginário social e reflete o papel do negro chacoteado . A arte não é inocente, nem “apolitica”. A arte produz e reproduz valores, modos de pensar e agir. Ter ciência disso é reconhecer a arte como potência para transformação social, é garantir que ela realmente seja democrática, chegue a todos sem oprimir ninguém. É mais do que urgente que nossos artistas (sim, porque fotógrafos também são artistas), não importa em que esfera da arte, reconheçam os atravessamentos políticos! É necessário garantir que a lógica hegemônica de privilégios que a população branca tem, seja rompida. Caros amigos da sete/nove, vocês são sim racistas e machistas, por isso é necessário que reconheçam essa condição para que, enfim, no futuro casos como esse não se repitam. Fomos construídos através de lógicas opressoras e mesmo que lutemos contra elas, possivelmente morreremos opressores. Então nos resta lutar para que essas atitudes preconceituosas e opressoras não se fortaleçam no nosso dia-a-dia e, assim, as próximas gerações conheçam outras lógicas, outras possibilidades e modos de viver.    

Um comentário:

  1. As pessoas que se declaram apolíticas ou libertárias, muitas vezes, no fundo, são apenas pessoas interessadas na manutenção do status quo opressor que vivemos hoje. Na verdade, estão trabalhando ao lado dos mais empedernidos conservadores. Vemos isso na educação, com os idiotas do "escola sem partido [de esquerda]". Eles querem calar toda e qualquer voz de mudança, denominando-as doutrinárias e sectárias.

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