sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Manifesto do Coletivo Negração

O Coletivo Negração vem por meio deste manifestar-se acerca dos casos de racismo que vem ocorrendo nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Durante algum tempo recebemos denúncias de racismo dentro da Universidade envolvendo toda comunidade universitária: PROFESSORES, alunos, servidores e trabalhadores terceirizados.

          O racismo institucional está de fato, instituído na Universidade e está expresso em inúmeras medidas, como por exemplo, o ingresso de um número significativo de estudantes cotistas no segundo semestre. Esta regra segrega, expõe e prejudica estudantes negros e negras ingressantes da reserva de vagas. Segrega a medida em que as turmas das primeiras disciplinas dos cursos, que são oferecidas no segundo semestre, conta com um contingente expressivo de estudantes negros em sala de aula. Prejudica a medida em que o tratamento de professores, técnicos administrativos e colegas em relação aos cotistas, é diferenciado e muitas vezes de cunho discriminatório. A restrição dos espaços de integração e confraternização dos estudantes, também mostra-se como uma medida segregacionista, os espaços da Universidade são para ser utilizados, toda e qualquer manifestação de história e cultura afro-brasileira não deve ser tolhida e sim incentivada pela instituição. A resolução 19/2011, implementada sem nenhuma discussão com a comunidade acadêmica ataca diretamente estudantes trabalhadores, que em geral são cotistas, muitos deles pobres, negros e mães.

 Com base nesses fatos e denúncias, nos levantamos em uma CAMPANHA CONTRA O RACISMO, sendo ele fora ou dentro desta universidade. Casos ocorridos como na Escola de Enfermagem que envolve a perseguição e ofensa a alunas negras e cotistas, não serão tolerados e os envolvidos e envolvidas terão seus nomes divulgados, bem como devidas medidas jurídicas também serão tomadas. O racismo se constitui como um crime inafiançável e imprescritível, previsto na Lei 7.716/1989, de modo que buscaremos todas as medidas cabíveis para que os responsáveis sejam devidamente punidos. Além disso, cobramos por parte da Administração da UFRGS, um posicionamento perante os acontecimentos anteriormente citados.
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), duas estudantes negras foram chamadas de “macaquinhas” por uma professora em sala de aula. A docente foi condenada por injúria racial e a UFPR não se pronunciou, tampouco interviu no processo, sendo o caso relatado pela própria estudante. Posturas como estas NÃO serão toleradas. Jamais esqueceremos que, o ano de 2007, no processo de implementação do Programa de Ações Afirmativas foi esta universidade que teve um de seus muros pichados com os dizeres racistas: “lugar de negro é na cozinha do RU”. O Coletivo Negração afirma:  o lugar de negros e negras é sim na cozinha do RU, nas salas de aulas, nos laboratórios, salas dos professores, limpeza de corredores, e onde mais quisermos. Cabe ressaltar que os funcionários terceirizados da UFRGS em sua maioria são negros e negras, tem menor remuneração e sofrem diariamente com a falta de pagamentos, não sendo garantido seu direito mínimo.
Estudantes negros e negras ao ingressar nesta universidade veem o início da realização de um sonho e perpetuação de uma luta. Não admitiremos que episódios de desistência e abandono de nossos colegas, sejam causados pela descriminação sofrida na Universidade. O Coletivo Negração é formado em sua maioria por estudantes cotistas, e por isso com muita propriedade afirmamos que, NÃO NOS CALAREMOS perante qualquer ato de discriminação racial ou qualquer tipo de preconceito, que seja de nossa ciência. Também somos parte da “excelência acadêmica” e continuaremos na luta por tratamento igual, pelo direito de permanência, valorização e RESPEITO às nossas raízes.




Coletivo Negração


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